“A literatura ameríndia aos 50 anos da morte de Arguedas: resistência e
ampliação”
29 a 31 de maio de 2019
Realização
Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais [Fale/UFMG]
Promoção
Biblioteca José María Arguedas
[Fale/UFMG]; Rede de Estudos Andinos [Brasil]
Apoio
Programa de Pós-graduação em
Letras: Estudos Literários [Poslit/Fale/UFMG]; Programa de Pós-graduação em Letras:
Estudos Literários [Fale/UFJF]; Núcleo de Estudos Latino-americanos
(Fale/UFMG]; Centro de Estudos Latino-americanos [CELA/DRI/UFMG]; Centro de
Estudios Literarios Antonio Cornejo Polar [CELACP/Peru]; EILA/Discursos,
representaciones y estudios interculturales [FLCH/UNMSanMarcos/Peru]; Centro de
Letras Hispanoamericanas [CELEHIS/UNMdP/Argentina]; Centro Virtual Jorge Isaacs
[Univalle/Colômbia]; Círculo Peruano de Minas Gerais; Consulado Peruano de
Minas Gerais.
Local
Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais
Justificativa
Assistimos no campo literário
latino-americano à irrupção em grande escala de uma diversidade de textos originários
de ao menos três áreas distintas - afro, ameríndio e feminino - o que tem
pressionado o tradicional cânon literário com que cada nação ou sub-região
organiza sua memória literária. Uma área até então pouco conhecida de grande
parte do público leitor, que atende pelo nome de textualidades indígenas,
literaturas indígenas ou literaturas ameríndias, responde por parte desse
fenômeno que se assemelha a uma crescida das águas de um rio, em razão da
volumosa quantidade de registros que aparecem desde variados géneros conhecidos
e não reconhecidos, se torna índice de um imenso caudal de vozes daquilo que
José María Arguedas, em seu romance Todas las sangres (1964), prognosticou com
as seguintes palavras: “é como se um rio subterrâneo começasse sua crescida”.
Esse movimento é o mesmo que
havia previsto 37 anos antes Luís Valcárcel em sua profética obra Tempestad en
los Andes (1927), que anunciava a chegada da “nova consciência”, uma vez que “a
palavra tinha sido pronunciada” e na terra já se viam os “espartacos
invencíveis”, os novos índios que promoveriam o renascimento da raça indígena
no país. Porém, a fim de mensurar não apenas a intensidade desse fenômeno, mas
as condições que o tornaram possível, é preciso ir à obra de outro pensador que
esclarece sobre a promessa de uma literatura de corte indígena, em lugar
daquela feita pelos indigenistas: José Carlos Mariátegui e seus 7 ensayos de
interpretación de la realidad peruana (1928). Em suas palavras se revelava o programa
futuro da literatura por vir: "A literatura indigenista [...] ainda é uma
literatura de mestiços. Por isso se chama indigenista e não indígena. Uma
literatura indígena, quando vier, virá em seu tempo. Quando os próprios índios
estejam em condições de produzi-la". É importante recordar que essas
afirmações brotam num momento da história peruana no qual se começava a
demandar a questão indígena não apenas a partir do campo literário, mas também
do campo político, artístico e cultural em geral, conforme se nota nas revistas
e movimentos desde os quais se inscrevem os dois intelectuais antes mencionados:
o grupo Resurgimiento, liderado por Valcárcel em 1920 em Cuzco, em torno da
Revista del Instituto Americano de Arte, e a revista Amauta, criada por
Mariátegui em 1926 em Lima. Contemporâneo desses movimentos são ainda o Boletín
Titikaka (1926), promovido pelo grupo Orkopata dos irmãos Peralta em Puno,
assim como as mudanças introduzidas no campo das belas artes por José Sabogal e
Julia Codesido, com a pintura indigenista em Lima.
Como advertiu Antonio Cornejo
Polar, estes movimentos preparam o terreno para a ascensão do indigenismo, que
passa a ser dominante no campo cultural peruano nos anos de 1940/50 e terá em
Arguedas seu representante maior.
A urgência de se colocar à altura
da tarefa de produzir sua própria literatura levou os grupos indígenas a imaginar
que para aceder à escola bastaria o simples desejo de estar junto a brancos e
mestiços, emulando sua linguagem, mas o conto "Paco Yunque" (1931),
de César Vallejo, e o romance El mundo es ancho y ajeno (1941), de Ciro
Alegría, demonstraria o contrário; o privilegio da cultura letrada ocidental
não estava franqueado aos membros das comunidades nativas, como se nota pelos
maus tratos e humilhações que sofre o garoto Paco Yunque na escola pelas mãos
do filho do patrão, assim como pela desalentada reflexão que faz o cacique
Rosendo Maqui, no início de El mundo es ancho y ajeno, sobre a luta infrutífera
da comunidade de Rumi por ter sua própria escola e seu professor.
No entanto, foi justamente a
escola um dos elementos motores que permitiram a assunção do quéchua e do aimara
como línguas de expressão artística, deixando atrás seu limitado papel como
elemento de comunicação no ambiente familiar, o que implicou também num alto
nível de transfusão cultural, na medida em que os processos interculturais em
curso cobram seu pedágio nos trânsitos linguísticos. Se a escola por essência é
a agência estatal encarregada de operar a homogeneização da cultura e da
língua, com seus programas de alfabetização ao castelhano e a padronização do
consumo cultural, por outro lado acabou oferecendo aos filhos das comunidades
nativas a oportunidade de realizar o que Gonzalo Espino denomina de sequestro
da palavra escrita", que lhes permitiu tomar a letra escrita e se lançar
ao “assalto à cidade letrada” (Julio Noriega), realizando, por fim, a façanha
antevista por Mariátegui. O resultado desse processo pode ser mensurado pelo
fato de que, 49 anos depois da morte de Arguedas, o Prêmio Nacional de
Literatura 2018 na categoria de línguas originárias, do Ministério da Cultura,
tenha sido concedido a Pablo Landeo, autor de Aqupampa (Pakarina Ediciones), um
livro escrito integralmente e sem tradução em língua quéchua. Um índice, como a
ponta de um grande iceberg, de um movimento que veio para cobrar uma reparação
histórica que a colonialidade trabalhou duro para invisibilizar ao longo da
história desse continente.
Objetivos
. Refletir sobre as produções
artísticas, literárias e culturais da região ameríndia do continente latino-americano
que se apresentam como literaturas, manifestações ou textualidades indígenas, assim
como as literaturas afro ou negra e de mulheres;
. Analisar, desde uma perspectiva
andina, temas vinculados à história cultural da região latinoamericana, como a
migração, a violência e a memória, além dos temas correntes relativos aos estudos
teóricos e criticos presentes na literatura e nas artes;
. Promover o encontro de escritores,
pesquisadores e estudiosos da região ameríndia no Brasil, através da Rede de Estudos
Andinos.
Comissão organizadora
Coordenação: Rômulo Monte Alto
(UFMG), Silvina Carrizo (UFJF)
Comissão Científica: Meritxell
Hernando Marsal (UFSC), Rogério Mendes Coelho (UFRN), Cláudia Luna (UFRJ),
Carla Dameâne Pereira de Souza (UFBA)
Comissão: Verônica Gomes Olegário
Leite, Lúcia de Fátima Corrêa, Alice Lamounier, Jesús Arellano, Eulálio Marques
Borges, Aiira Brisa
Participação
O Colóquio se organiza em torno
de conferências, mesas redondas, comunicações orais e pôsteres, além da organização
de uma exposição da obra de José María Arguedas, presente na Biblioteca José
María Arguedas (Fale/UFMG), e uma exposição de fotografias sobre a produção de
textos indígenas em comunidades nativas brasileiras. A participação no evento
se dará mediante a apresentação de COMUNICAÇÃO ORAL, para docentes,
pesquisadores e alunos de pós-graduação, e de PÔSTER para alunos de graduação.
A data para envio de propostas de comunicação será de 18 de fevereiro a 26 de
abril de 2019. Os resumos deverão conter até 200 palavras, em Times New Roman,
espaço 1,5 e ser enviados ao email
Propostas de pôsteres deverão ser
encaminhadas também ao mesmo email.
** Assim que passe o CARNAVAL,
enviaremos o programa do III Colóquio com a relação deconvidados, bem como
informações sobre traslado, hospedagem e alimentação em Belo Horizonte.
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